25 November 2006

A Fome no Banco dos Réus Artigo de Fevereiro de 2005

 A fome no banco dos réus

Logo após a vitória petista e liberal (não esqueçam), os Estados Unidos acenaram com a possibilidade de auxiliar o Programa Fome Zero. Por trás da iniciativa, havia um lobby de multinacionais que queriam ver o Brasil eliminar as restrições à comercialização de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), mais conhecidos como Transgênicos.Não havia nada de ilegal ou imoral nessa tentativa de "manipular" os políticos e os formadores de opinião, mas caberia ao Brasil e aos brasileiros decidirem de forma soberana se iriam ou não aceitar a presença dos transgênicos em sua agricultura.Não foi bem assim, e muita coisa mudou, do discurso ao cenário atual sobre o assunto.

A multinacional Monsanto investe pesado na mídia e na palavra chave de suas campanhas publicitárias: "IMAGINE". Nosso presidente Luis Inácio LULA da Silva, imaginando que pode acabar com a fome no mundo, o que lhe renderá ganhos políticos; assim como a Monsanto imaginando aumentar seus lucros com seus experimentos, esquecem que a fome não é a única vilã a ser colocada no banco dos réus. O que também não deveria esquecer o governante brasileiro, é que o discurso messiânico feito ao mundo capitalista de combate a fome, deveria ir bater de frente com o gasto apocalíptico em armamentos feitos no planeta, principalmente pelos americanos. 

Dividam 800 bilhões de dólares anuais gastos em armas por 800 milhões de pessoas famintas que iriam poder comprar comida orgânica, transgênica ou até alienígena se preferirem. Vejam a forma sofista do discurso do Bem contra o Mal. Junto no banco dos réus, com o mal da fome, deveriam estar o mal da guerra, o mal da injustiça social, o mal da poluição nos recursos hídricos e na atmosfera, mas também, o mal da política mal intencionada.

E este último mal, pode se transformar, "caso o povo veja os governos como o Feijão, que só na panela de pressão é que vai ficar bom" em sábias palavras de Frei Beto no 5º Fórum Social Mundial deste ano, sendo o religioso um dos pais do Programa Fome Zero e um dos críticos a morosidade e a burocracia, pois, segundo ele, "ao apoiar com o voto um governo em que o povo acredita, este mesmo povo tem muito mais moral e poder para cobrar as atitudes e mudanças, além de acertos no trato das políticas públicas".

Mas, na política em geral, de um dia para o outro, tudo muda. O discurso anti-tudo amenizou e três medidas provisórias liberaram a comercialização e o plantio de transgênicos neste governo que alardeava ser contra os Organismos Geneticamente Modificados. O que se viu foram os sofistas, lobistas e outros "especialistas" de plantão agindo em prol do capital estrangeiro.
Mas, recordar é viver e nas manchetes dos jornais no país, em 25 de novembro de 2002, já governo eleito, PT e MST condenavam o lobby a favor dos transgênicos. "Petistas, no entanto, aceitavam o diálogo com os americanos sobre o tema".Por sua vez, o Movimento dos Sem terra diziam que isso era "oportunismo", e criticavam o lobby feitos pelos EUA e por companhias americanas de Biotecnologia para a liberação da produção de transgênicos no Brasil.

Na época, os petistas argumentavam que não se podia abrir mão da ética em nome do combate a fome, mas, como sempre, estavam abertos ao "diálogo" com os "Yankees".A senadora Marina Silva dizia que era "ingênuo" tratar os transgênicos como a "tábua de salvação" para a fome. "Não é uma questão ideológica, dogmática. Se as empresas têm interesse, tem de ser acompanhada de preocupações sociais. É preciso que se façam experimentos baseados na realidade brasileira. A sociedade tem o direito de se prevenir", afirmava, antes de assumir o Ministério do Meio Ambiente e descobrir que os planos de seus colegas do Palácio do Planalto eram outros.

A senadora é autora de um projeto que visa proibir a comercialização dos transgênicos por três anos, até que provem que eles não representavam danos à saúde e ao meio ambiente. Assim como a ampla discussão nacional que não existe, o projeto não foi aprovado e está lá no limbo do Senado Federal.
Marina Silva, a acreana que lutou ao lado de Chico Mendes, está hoje sofrendo um processo de fritura no meio ambientalista e no seu próprio partido, pois aceitou e continua no poder, mesmo com todos os absurdos cometidos pelas "raposas de palácio" em relação à natureza e a biodiversidade no país.

Por outro enfoque, nem o MST, o braço revolucionário do PT, está sendo ouvido e a liberação dos transgênicos está na contramão das políticas do movimento, que afirmavam há pouco mais de dois anos atrás, que a liberação iria garantir o monopólio da comercialização das sementes a apenas duas ou três grandes empresas, prejudicando o pequeno agricultor e promovendo a concentração de renda, além de que estas sementes poderiam até mesmo agravar o problema da fome no país e no mundo.

Em relação ao ambiente, a questão é ainda mais complexa, pois envolve mais variáveis, algumas delas desconhecidas. É claro que novas tecnologias trazem, além de riscos, benefícios potenciais. O mais óbvio é o aumento de produtividade, mas haveriam também ganhos ambientais, pois culturas transgênicas dispensam ou reduzem o uso de defensivos agrícolas. Fala-se, ainda, em melhorar o valor nutricional dos alimentos e até mesmo em associa-los a vacinas.
Ainda que se conseguisse demonstrar que os transgênicos são relativamente seguros, haveria outros elementos para o Brasil e o governo considerar antes de aceita-los. Outro ponto é o direito do consumidor de escolher, o que exige que os rótulos dos produtos indiquem se contêm ou não componentes transgênicos.

O debate está longe de ser encerrado e envolve, além das questões propriamente técnicas, na área da saúde humana, na área dos ecossistemas, mais os fatores políticos e econômicos que não serão desprezados, no momento das decisões que o Mercado Econômico Mundial irá implantar no planeta, a qualquer preço, inclusive tapando a boca da mídia e enchendo o bolso dos "picaretas" no Congresso, no Senado e no Palácio.

Enviado pelo autor, Porto Alegre-RS
Julio Wandam

Ambientalista
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